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sábado, 1 de março de 2025

 

A mulher da foto

Eu me apaixonei por ela,
pela mulher da foto.
Foi amor à primeira vista,
um delírio divino,
um feitiço infinito,
um segredo de vida,
um amor que a morte ressuscitou.

Tão bela, tão jovem,
presa no mármore frio,
mas viva no fogo da minha paixão,
sentimento angelical do meu lírio.

Toda noite, à mesma hora,
quando a escuridão me envolve,
fecho os olhos depressa,
ansioso para partir outra vez.

E lá está ela, à minha espera,
linda, nua, etérea,
vestida de luar e do azul do mar,
com olhos que cintilam estrelas.

Em seus braços,
o tempo se desfaz,
o mundo silencia,
a entrega é êxtase,
o desejo, eternidade,
à noite, o sonho, a cumplicidade.

Mas a aurora é um castigo,
o sol nos expulsa do paraíso,
e o vazio nos separa.

A cada dia me deito mais cedo,
pois sei que meu tempo se esvai,
e o medo me conduz
ao despertar definitivo.

Já envelheci contando as horas,
enfraqueci esperando o momento
de jamais retornar.

Quando a última noite chegar,
quando meu corpo enfim repousar,
nenhuma luz rasgará a escuridão.

Ela estenderá a mão,
e, no silêncio do portal de luz,
eu a tomarei nos braços
para nunca mais soltar.

Juntos cruzaremos planetas,
onde os deuses sussurram amor,
onde o coração arde como chama sagrada,
onde ela sempre me despertou imortal.

E nossas almas, enfim,
se unirão na glória celestial.


Referência (ABNT NBR 6023:2018):

FERNANDES, Prof. Osmar Soares. A mulher da foto. Recanto das Letras, 12 mar. 2009. Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/poesias/1481963. Acesso em: 1 mar. 2025.

Estudo Aprofundado do Poema "A Mulher da Foto"


Introdução

O poema "A Mulher da Foto", de Osmar Fernandes, é uma obra de rara profundidade emocional e espiritual. Sua temática central é um amor que transcende os limites da vida e da morte, conduzindo o eu lírico a uma existência dual entre o mundo dos vivos e o universo etéreo dos sonhos. O desejo de reencontro com a mulher amada não é apenas uma saudade intensa, mas uma busca por uma fusão definitiva entre almas, onde a morte não representa o fim, mas a libertação para uma eternidade sublime.

A riqueza desse poema não se dá apenas pelo seu enredo trágico-romântico, mas pela forma como é construído. Através de um uso magistral das figuras de linguagem, Fernandes transforma um amor impossível em algo divino, imortal e glorioso. A presença marcante de metáforas, personificações, hipérboles, sinestesias e antíteses amplia o impacto poético, tornando a leitura sensorialmente rica e espiritualmente arrebatadora.


Análise das Figuras de Linguagem e Elementos Poéticos

O poema se estrutura de maneira crescente, evoluindo de um amor platônico e desesperado para a consumação de um destino inevitável. Cada verso carrega simbolismos que reforçam a grandiosidade da narrativa.

1. Metáforas: O Amor como Ressurreição e Êxtase

A metáfora é um dos principais recursos utilizados para conferir intensidade e lirismo à obra.

📌 "um feitiço infinito" → O amor do eu lírico não se limita ao humano; ele se torna algo encantado, sobrenatural e sem fim.

📌 "presa no mármore frio, mas viva no fogo da minha paixão" → A mulher, morta e gravada em uma lápide, ganha vida dentro do desejo ardente do eu lírico. O contraste entre frio e fogo reforça a oposição entre o mundo dos vivos e o dos mortos.

📌 "vestida de luar e do azul do mar" → Aqui, a amada transcende a materialidade e se torna um ser celestial, coberta por elementos naturais de grandeza e pureza.

📌 "onde o coração arde como chama sagrada" → O amor é comparado a uma chama divina, elevando-o a um estado quase religioso.


2. Personificação: Quando o Tempo e a Noite se Tornam Personagens

A personificação transforma elementos abstratos em entidades ativas, dando mais dinamismo à narrativa.

📌 "o sol nos expulsa do paraíso" → O amanhecer assume o papel de um carrasco, separando os amantes e trazendo o eu lírico de volta à dura realidade.

📌 "o medo me conduz ao despertar definitivo" → O medo se torna um guia, conduzindo o eu lírico ao destino inevitável da morte.

📌 "o tempo se desfaz, o mundo silencia" → O tempo perde seu poder quando o eu lírico está nos braços da amada, criando um instante de êxtase absoluto.


3. Hipérbole: A Eternidade Dentro de um Sentimento

O exagero é essencial para demonstrar a intensidade da paixão do eu lírico.

📌 "o desejo, eternidade" → O desejo é tão intenso que se torna imortal.

📌 "já envelheci contando as horas" → O tempo se arrasta, tornando cada momento sem a amada uma tortura.

📌 "nenhuma luz rasgará a escuridão" → A escuridão da morte não será interrompida; pelo contrário, será o portal definitivo para o reencontro.


4. Sinestesia: O Amor que se Sente com Todos os Sentidos

A fusão dos sentidos amplia a profundidade emocional do poema.

📌 "olhos que cintilam estrelas" → O brilho dos olhos da amada é comparado a estrelas, unindo a visão ao esplendor celestial.

📌 "no silêncio do portal de luz" → O uso do "silêncio" e da "luz" une audição e visão, criando uma imagem mística do limiar entre os mundos.


5. Antítese e Paradoxo: Vida e Morte como Um Só Destino

O poema brinca constantemente com os opostos, criando um jogo entre dualidades como vida e morte, luz e sombra, presença e ausência.

📌 "o amor que a morte ressuscitou" → O amor deveria morrer junto com a mulher, mas, ironicamente, se fortalece e renasce com sua ausência.

📌 "nenhuma luz rasgará a escuridão" → A luz, símbolo de salvação, é negada aqui, pois a verdadeira salvação do eu lírico está na escuridão da morte.

📌 "onde ela sempre me despertou imortal" → O despertar, que geralmente indica o retorno à vida, aqui representa a entrada definitiva na eternidade.


A Estrutura Crescente do Poema: Da Agonia ao Êxtase

O poema se constrói como uma jornada, partindo de um amor impossível, passando pelo sofrimento e pela espera, até alcançar sua consumação definitiva.

📌 A primeira parte apresenta a fascinação do eu lírico pela mulher da foto e sua dor por não poder tê-la fisicamente.

📌 A segunda parte descreve o reencontro noturno no mundo dos sonhos, onde os amantes vivem uma paixão intensa e transcendental.

📌 A terceira parte reforça a angústia da separação diária e o desejo crescente do eu lírico por um reencontro eterno.

📌 A quarta e última parte traz a conclusão fatalista e sublime: a morte não é o fim, mas a redenção, a fusão definitiva das almas em um amor que se torna celestial e eterno.


Conclusão

O poema "A Mulher da Foto" é uma obra-prima de lirismo, intensidade e transcendência. Ele rompe com a visão convencional da morte e do luto, transformando a ausência em um portal para um amor superior e infinito.

A fusão entre sonho, paixão e espiritualidade cria uma experiência poética arrebatadora, onde cada verso se torna uma prece, e cada imagem, um reflexo de um amor que desafia o tempo e o destino.

A última estrofe "E nossas almas, enfim, se unirão na glória celestial" encerra o poema com um desfecho divino. O amor não apenas sobrevive à morte, mas se torna a própria essência da eternidade.

Dessa forma, Fernandes não escreve apenas sobre saudade ou desejo, mas sobre a busca pelo amor absoluto e imortal, que só encontra sua verdadeira morada além da existência terrena.

💫 Um poema que não apenas se lê, mas se sente, se vive e se eterniza. 💫

 


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