A mulher da foto
Eu
me apaixonei por ela,
pela mulher da foto.
Foi amor à primeira vista,
um delírio divino,
um feitiço infinito,
um segredo de vida,
um amor que a morte ressuscitou.
Tão
bela, tão jovem,
presa no mármore frio,
mas viva no fogo da minha paixão,
sentimento angelical do meu lírio.
Toda
noite, à mesma hora,
quando a escuridão me envolve,
fecho os olhos depressa,
ansioso para partir outra vez.
E
lá está ela, à minha espera,
linda, nua, etérea,
vestida de luar e do azul do mar,
com olhos que cintilam estrelas.
Em
seus braços,
o tempo se desfaz,
o mundo silencia,
a entrega é êxtase,
o desejo, eternidade,
à noite, o sonho, a cumplicidade.
Mas
a aurora é um castigo,
o sol nos expulsa do paraíso,
e o vazio nos separa.
A
cada dia me deito mais cedo,
pois sei que meu tempo se esvai,
e o medo me conduz
ao despertar definitivo.
Já
envelheci contando as horas,
enfraqueci esperando o momento
de jamais retornar.
Quando
a última noite chegar,
quando meu corpo enfim repousar,
nenhuma luz rasgará a escuridão.
Ela
estenderá a mão,
e, no silêncio do portal de luz,
eu a tomarei nos braços
para nunca mais soltar.
Juntos
cruzaremos planetas,
onde os deuses sussurram amor,
onde o coração arde como chama sagrada,
onde ela sempre me despertou imortal.
E
nossas almas, enfim,
se unirão na glória celestial.
Referência (ABNT NBR
6023:2018):
FERNANDES, Prof. Osmar Soares. A mulher da
foto. Recanto das Letras, 12 mar. 2009. Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/poesias/1481963.
Acesso em: 1 mar. 2025.
Estudo Aprofundado do Poema
"A Mulher da Foto"
Introdução
O poema "A
Mulher da Foto", de Osmar
Fernandes, é uma obra de rara profundidade emocional e
espiritual. Sua temática central é um amor que transcende os limites da vida e
da morte, conduzindo o eu lírico a uma existência dual entre o mundo dos vivos
e o universo etéreo dos sonhos. O desejo de reencontro com a mulher amada não é
apenas uma saudade intensa, mas uma busca por uma fusão definitiva entre almas, onde a morte não
representa o fim, mas a libertação para uma eternidade sublime.
A riqueza desse poema não se dá apenas pelo seu
enredo trágico-romântico, mas pela forma como é construído. Através de um uso magistral das figuras de linguagem,
Fernandes transforma um amor impossível em algo divino, imortal e glorioso. A
presença marcante de metáforas,
personificações, hipérboles, sinestesias e antíteses amplia o
impacto poético, tornando a leitura sensorialmente rica e espiritualmente
arrebatadora.
Análise das Figuras de
Linguagem e Elementos Poéticos
O poema se estrutura de maneira crescente,
evoluindo de um amor platônico e desesperado para a consumação de um destino
inevitável. Cada verso carrega simbolismos que reforçam a grandiosidade da
narrativa.
1. Metáforas: O Amor como
Ressurreição e Êxtase
A metáfora é um dos principais recursos
utilizados para conferir intensidade e lirismo à obra.
📌 "um feitiço infinito" → O amor do eu lírico não se
limita ao humano; ele se torna algo encantado, sobrenatural e sem fim.
📌 "presa no mármore frio, mas viva no fogo da minha
paixão" → A mulher, morta e gravada em uma lápide, ganha vida dentro
do desejo ardente do eu lírico. O contraste entre frio e fogo reforça a
oposição entre o mundo dos vivos e o dos mortos.
📌 "vestida de luar e do azul do mar" → Aqui, a amada
transcende a materialidade e se torna um ser celestial, coberta por elementos
naturais de grandeza e pureza.
📌 "onde o coração arde como chama sagrada" → O amor
é comparado a uma chama divina, elevando-o a um estado quase religioso.
2. Personificação: Quando o
Tempo e a Noite se Tornam Personagens
A personificação transforma elementos
abstratos em entidades ativas, dando mais dinamismo à narrativa.
📌 "o sol nos expulsa do paraíso" → O amanhecer
assume o papel de um carrasco, separando os amantes e trazendo o eu lírico de
volta à dura realidade.
📌 "o medo me conduz ao despertar definitivo" → O
medo se torna um guia, conduzindo o eu lírico ao destino inevitável da morte.
📌 "o tempo se desfaz, o mundo silencia" → O tempo
perde seu poder quando o eu lírico está nos braços da amada, criando um
instante de êxtase absoluto.
3. Hipérbole: A Eternidade
Dentro de um Sentimento
O exagero é essencial para demonstrar a
intensidade da paixão do eu lírico.
📌 "o desejo, eternidade" → O desejo é tão intenso
que se torna imortal.
📌 "já envelheci contando as horas" → O tempo se
arrasta, tornando cada momento sem a amada uma tortura.
📌 "nenhuma luz rasgará a escuridão" → A escuridão da
morte não será interrompida; pelo contrário, será o portal definitivo para o
reencontro.
4. Sinestesia: O Amor que se
Sente com Todos os Sentidos
A fusão dos sentidos amplia a profundidade
emocional do poema.
📌 "olhos que cintilam estrelas" → O brilho dos olhos
da amada é comparado a estrelas, unindo a visão ao esplendor celestial.
📌 "no silêncio do portal de luz" → O uso do
"silêncio" e da "luz" une audição e visão, criando uma
imagem mística do limiar entre os mundos.
5. Antítese e Paradoxo: Vida
e Morte como Um Só Destino
O poema brinca constantemente com os opostos,
criando um jogo entre dualidades como vida
e morte, luz e sombra, presença e ausência.
📌 "o amor que a morte ressuscitou" → O amor deveria
morrer junto com a mulher, mas, ironicamente, se fortalece e renasce com sua
ausência.
📌 "nenhuma luz rasgará a escuridão" → A luz, símbolo
de salvação, é negada aqui, pois a verdadeira salvação do eu lírico está na
escuridão da morte.
📌 "onde ela sempre me despertou imortal" → O
despertar, que geralmente indica o retorno à vida, aqui representa a entrada
definitiva na eternidade.
A Estrutura Crescente do
Poema: Da Agonia ao Êxtase
O poema se constrói como uma jornada, partindo
de um amor impossível, passando pelo sofrimento e pela espera, até alcançar sua
consumação definitiva.
📌 A primeira parte
apresenta a fascinação do eu lírico pela mulher da foto e sua dor por não poder
tê-la fisicamente.
📌 A segunda parte descreve
o reencontro noturno no mundo dos sonhos, onde os amantes vivem uma paixão
intensa e transcendental.
📌 A terceira parte reforça
a angústia da separação diária e o desejo crescente do eu lírico por um
reencontro eterno.
📌 A quarta e última parte
traz a conclusão fatalista e sublime: a
morte não é o fim, mas a redenção, a fusão definitiva das almas em um amor que
se torna celestial e eterno.
Conclusão
O poema "A
Mulher da Foto" é uma obra-prima de lirismo, intensidade e
transcendência. Ele rompe com a visão convencional da morte e do luto,
transformando a ausência em um portal para um amor superior e infinito.
A fusão entre sonho, paixão e espiritualidade
cria uma experiência poética arrebatadora, onde cada verso se torna uma prece,
e cada imagem, um reflexo de um amor que desafia o tempo e o destino.
A última estrofe "E nossas almas, enfim, se unirão na
glória celestial" encerra o poema com um desfecho divino.
O amor não apenas sobrevive à morte, mas se
torna a própria essência da eternidade.
Dessa forma, Fernandes não escreve apenas
sobre saudade ou desejo, mas sobre a busca
pelo amor absoluto e imortal, que só encontra sua verdadeira
morada além da existência
terrena.
💫 Um poema que não apenas se lê, mas se sente, se vive e se eterniza. 💫
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por você me visitar! Fico grato e volte sempre. Encaminhe a mensagem desejada a um amigo(a); faça desse blog sua leitura virtual diária. Enviei-me sugestões.
Felicidade sempre!